06/12/2011

galeria entrevista Isabel Minhós Martins

Terça-feira é dia de entrevista na galeria portuguesa.
Saiba um pouco mais sobre a Isabel Minhós Martins.


A Isabel nasceu em Lisboa em 1974.
Sempre gostou de ouvir histórias de todos os tipos, contadas pelos amigos, pelas tias ou pela vizinha. Na escola, quando começou a interessar-se pelas palavras, arriscou os seus primeiros textos, poemas e muitas
cartas. Quando descobriu os livros, o desassossego continuou e os olhos nunca mais tiveram descanso.
Andou no Liceu da Parede, onde conheceu a Madalena e o Bernardo. Apesar de todos os testes indicarem que deveria estudar “qualquer coisa do mundo das Letras”, foi para a Faculdade de Belas Artes tirar o Curso de Design de Comunicação, onde conheceu o João. E foi com eles que criou a editora Planeta Tangerina onde tem publicado grande parte dos seus livros.
Trabalhou na primeira agência de comunicação pedagógica portuguesa, colaborou em projetos para serviços educativos, câmaras municipais e programas pedagógicos, escreveu textos para revistas, fez guiões para animações, entre outras coisas.
Em 2004, frequentou a pós-graduação em Edição, Livros e Novos Suportes Digitais da Universidade Católica de Lisboa.
Foi também em 2004 que lançou o seu primeiro livro, "Um livro para todos os dias", com ilustrações de Bernardo Carvalho.
Hoje, a Isabel é uma referência na literatura infantil. Responsável pelos textos e conteúdos do Planeta Tangerina, já escreveu mais de 20 livros e alguns já estão publicados em Espanha, França, Inglaterra, Itália, Brasil, Noruega e Coreia.
Ganhou uma Menção Honrosa no I Prémio Internacional Compostela de Álbuns Ilustrados com o livro “Ovelhinha, Dá-me Lã” da Kalandraka, ilustrações de Yara Kono.
Em 2010, foi nomeada para os Prémios de Autor da SPA/RTP na categoria Literatura Infanto-Juvenil com “O Livro dos Quintais” do Planeta Tangerina, ilustrações de Bernardo Carvalho.
“O Mundo Num Segundo” (na edição espanhola da Intermon Oxfam) foi distinguido pelo Banco del Libro como “Melhor Livro Infantil 2010”.



Com a quantidade de livros geniais que a Isabel já escreveu, fiquei muito surpreendida por praticamente não ter encontrado entrevistas consigo. A Isabel não gosta de dar entrevistas?
R: Obrigada pelos “geniais”... Se os livros são geniais, tal deve-se a uma equipa alargada — que nem sempre começa em mim — e que percorre todas as salas de trabalho deste atelier. Mas, respondendo à sua pergunta: gosto de dar entrevistas, sim. Obrigam-me a parar e a pensar. E, quando são bem escolhidas as perguntas muitas vezes fazem-me descobrir porque é que faço as coisas desta maneira e não daquela.
Sobretudo quando são escritas, porque penso muito melhor por escrito.

Porquê o Design de Comunicação se tudo indicava que deveria seguir a área de letras?
R: Acontecia muito, na altura em que andei no liceu, os maus alunos irem parar a Letras não porque se interessavam por Literatura e afins, mas porque fugiam da Matemática. Nessa altura, tinha-se a ideia de que só iam para Letras os maus alunos, que as cadeiras eram todas fáceis... Uma coisa mesmo muito parva (mas andávamos no Liceu e as ideias parvas abundavam... ). Eu adorava História, adorava Filosofia e Português, era um verdadeiro zero à esquerda a Geometria Descritiva, não desenhava grande coisa... Mas ainda assim achava que tinha um lado criativo que me safaria daquilo tudo. E até é mais ou menos verdade, exceto na parte da Geometria em que escapei por uma unha negra a um chumbo monumental. Também houve a influência dos amigos (tive uma extraordinária turma de Artes no Liceu) e talvez a vontade de não ir pelo caminho mais óbvio. Talvez achasse que descobriria um outro lado de mim. Mas por acaso não mudei grande coisa e o meu cérebro nunca se abriu à beleza da Geometria...
Nas Belas-Artes trazíamos exercícios para casa, como desenhar uma cadeira desdobrável em várias posições e as minhas tias viam-me desenhar pela casa e diziam: “que estranho, imaginava-te muito mais a escrever sobre essa cadeira do que a desenhá-la”. E tinham razão (são muito perspicazes as tias).

A Isabel tem filhos. Quando escreve, escreve para eles?
R: Quando estou a trabalhar não penso muito nos meus filhos. Abro um parêntesis, quando entro no atelier e fecho-o quando saio.
E quando penso em ideias para livros também não penso: o que é que os meus filhos gostariam de encontrar num livro? O que é que os divertiria? Ou o que é que eu gostaria de lhes ensinar esta semana? Já há tantos livros, desenhos animados e afins que partem destes objetivos que não faria muito sentido tentar funcionar assim (até porque estes “produtos”, que vão exatamente ao encontro daquilo que as crianças gostam, quase sempre são produzidos por poderosíssimas máquinas e empresas, com meios espetaculares).
No meu caso, as ideias para os livros são coisas muito espontâneas, nunca são premeditadas. Muitas vezes nascem de uma observação ou de qualquer coisa que tem a ver com mundo, qualquer coisa que eu vejo e penso: isto dava um livro. E, vendo as coisas desse prisma, os livros também são para os meus filhos porque eles também pertencem ao mundo (como todas as outras crianças ou todos os adultos que também compram os livros do Planeta Tangerina).
Mas gosto que eles gostem do que faço, claro. Fico feliz quando os oiço dizer de cor uma frase qualquer de um livro meu.

De todos os livros que já escreveu, qual foi o que mais gostou?
R: Gostei muito de escrever o “És mesmo Tu?”, ilustrado pelo Bernardo Carvalho. E também me diverti muito com um que vai sair para o ano que se chama “Nunca vi uma bicicleta mas os patos não me largam”. Uma coisa um bocadinho alucinada e que partiu, lá está, de uma observação do mundo que me andava a irritar e ao mesmo tempo a preocupar: a quantidade de crianças que começam logo aos 4, 5 anos a ser treinadas para serem boas alunas e que não conhecem as coisas mais básicas do mundo (tipo ver um pato ou andar de bicicleta). Este vai ser ilustrado pela Madalena e é um texto muito simples que me saiu quase de rajada.



Já se adaptou a 100% ao Acordo Ortográfico?
R: Não me adaptei a 100% e há coisas estranhíssimas que passaram a acontecer: “para” e "para”; “pelo” e “pelo” (descubram as diferenças)... Mas quando percebi que o acordo já não andava para trás, também o adotei (agora sem o “p”).

O Planeta Tangerina faz agendas lindíssimas (apesar de fazer um intervalo em 2012). Ainda usa agenda em papel ou já adotou as novas tecnologias?
R: Por acaso não usava agenda em papel e só comecei a fazê-lo o ano passado com a agenda “Qual é o espanto?”.
O que me dá mesmo jeito são umas folhas A3 com grelhas semanais que colo na parede mesmo aqui ao meu lado.
Mas também uso uma espécie de agenda aqui no computador que se chama MyDay e funciona como lista das coisas que tenho para fazer em cada dia.

O que está a ler agora?
R: Li agora dois livros de Tony Bellotto (um escritor brasileiro que escreve uns policiais divertidos), comecei “O Pintor Debaixo do Lava-loiças” de Afonso Cruz e já tenho o próximo na calha: “O Sentido do Fim”, de Julian Barnes, o último premiado do Booker.
Estou numa fase terrível: não consigo esforçar-me para ler, ou gosto logo ou desisto...

Organiza os seus dias ou trabalha por instinto?
R: Depende das alturas: quando tenho trabalhos com prazos apertados, tenho os dias todos muito organizados, o tempo contado ao minuto. Porque não gosto de ficar a trabalhar até às quinhentas nem de levar trabalho para casa ao fim-de-semana (quando estou aqui a trabalhar, é a corpo inteiro, sem pausas; e quando saio para o resto da vida é no resto da vida que quero estar).
Quando tenho prazos mais largos, vou seguindo uma lista e, há dias, em que posso escolher: hoje estou mais virada para aqui, vou pegar nisto...

Tem projetos para um futuro próximo?
R: Claro! Já estamos a trabalhar no ano de 2012.



Para além de escrever, o que mais gosta de fazer?
R: De ler. De ter tempo e espaço mental para ler. Também gosto de uma boa jantarada com amigos. De tomar banho no mar...

E, no dia-a-dia, o que menos gosta de fazer?
R: De andar a correr.

Sugira alguém português que, para si, seja inspirador.
R: Esta é difícil. Há pessoas tão interessantes em todas as áreas... Escolho a Lurdes Castro, artista portuguesa madeirense. Já conhecia o trabalho dela mas fiquei completamente apaixonada quando a vi no documentário de Catarina Mourão “Pelas Sombras”. É uma mulher linda, olha para o mundo de uma maneira linda, sem pressas, tudo absorvendo e saboreando. Um bocadinho ao contrário da forma como hoje vivemos... e por isso a considero inspiradora.

As imagens apresentadas são de livros editados pelo Planeta Tangerina. Os textos são da Isabel Minhós Martins (claro) e as ilustrações do Bernardo Carvalho e da Madalena Matoso.
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