14/02/2012

galeria entrevista Liliana Alves

Terça-feira é dia de entrevista na galeria portuguesa.
Saiba um pouco mais sobre a Liliana Alves.


A Liliana Alves nasceu em Caldas da Rainha em 1982, onde atualmente reside e trabalha na sua empresa de joalharia.
É empresária, designer e artífice na área da joalharia contemporânea. Inspira-se nas raízes tradicionais portuguesas, em tudo o que a envolve e nos seus sonhos.
Fez o curso de ourivesaria no CINDOR em Gondomar e quando terminou decidiu avançar por conta própria. É uma otimista por natureza e apesar do percurso não ter sido fácil em questões burocráticas na formação da sua empresa, pela via da persistência conseguiu ter marca própria autenticada pela Casa da Moeda.
Pega em ouro e sobretudo em prata que conjuga com, por vezes madeira, cerâmica ou maioritariamente pedras preciosas, e cria peças únicas. A técnica de filigrana é uma característica do seu trabalho, tendo adaptado e recriado uma interpretação própria sobre a mesma. Cria jóias versáteis que podem ser usadas de muitas maneiras, como um colar com diferentes terminais que tem várias utilizações e que se transforma também numa pregadeira ou uma pregadeira que é simultaneamente um brinco.
Atualmente vende para joalharias, galerias de arte, museus e particulares. A Liliana também faz jóias para a Ana Bacalhau dos Deolinda.

joiaslilianalves.blogspot.com
facebook

colar Estrelícia
Esta paixão pela joalharia vem de pequenina?
R: A necessidade de dar corpo à imaginação é sim revelada desde pequena. Sempre foi uma imaginação em que tinha a necessidade de transportá-la para tintas coloridas no papel, esculturas em barro ou areia, e assim como em todas ou na maioria das meninas, gostava de fazer objetos de adorno para mim, para a família e amigos.

Como é que começa a criação de uma jóia? Através de um desenho?
R: A ideia surge, obrigatoriamente sinto em seguida a necessidade de a passar para o papel, não prendo muito tempo no desenho, apenas serve como auxílio de memória para me lembrar da ideia que tive e em que formato irei usar os materiais etc., pois o tempo urge, a finalidade é passar à prática e para se ser designer e empresária é preciso até na criatividade criar ordem e disciplina.

E, em média, quanto tempo demora para fazer uma peça?
R: Depende da peça, da sua dimensão e da sua carga técnica, tanto posso demorar, por exemplo, 3 horas a fazer um anel, como posso demorar 5 ou 6, posso fazer um colar em 5 horas como posso fazer outro de outro modelo em 9 ou 10.


Que cuidados deve ter um artífice que trabalhe com estes materiais?
R: Devido ao constante contacto com produtos nocivos à saúde é necessário as devidas precauções. Usar luvas quando se lida com produtos agressivos à pele, proteger as vias respiratórias quando trabalhamos com material de desgaste que origina poeiras, ter a noção dos limites no uso de maquinarias que modelam os metais, para não correr riscos de acidentes no trabalho.

A joalharia contemporânea já conquistou o mercado ou ainda é difícil entrar nas ourivesarias?
R: No meu ponto de vista, nos dias de hoje o que origina movimento no mercado das ourivesarias, é precisamente a joalharia contemporânea ou o que chamamos a joalharia de autor. Existe a necessidade de mudar um mercado saturado, de receber ideias inovadoras, criar o espanto e a novidade no público apreciador de jóias originais, a necessidade de marcar diferenças ou particularidades na forma de expressar e de estar, tanto é necessária para quem cria como para quem usa, daí existir uma perspetiva otimista para a joalharia contemporânea.



colecão Leveza
A Liliana fala em "dois anos de terror e burocracia" para registar a sua marca. Porque é que foi tão complicado?
R: É uma pergunta que mesmo findo esse passo ainda a coloco. Não vejo a necessidade de tanta restrição e exigência para a obtenção da marca registada pela casa da moeda, é uma legislação que há décadas que não é alterada, por isso não se adapta aos dias de hoje, não é coincidente com o nosso mercado atual. Obviamente, tudo deve ter uma norma de conduta e alguma regra, mas mesmo assim, a meu ver, as clausulas que definem as leis da casa da moeda para a obtenção do punção de fabricante de ourivesaria deviam ser mais abrangentes, pois nem todas as pessoas que pretendem dedicar-se a esta área, têm pretensões de industrializar ou de fazer os passos de transformação nos metais que implica ter um espaço especializado para essas transformações.

Tem alguma peça que se recuse a vender, que tenha feito só para si?
R: Para mim o que faço faz sentido ao ser partilhado, portanto mesmo que faça alguma jóia para mim é com o intuito de a publicitar. Se estiver muito tempo com ela posso sim criar uma espécie de afeição, mas não com o sentido de posse mesmo que goste muito delas.

Como é que surgiu esta "parceria" com a Ana Bacalhau?
R: Surgiu na sequência de uma entrevista que fiz em 2009 para a revista Única do Jornal Expresso. A Ana viu a entrevista, interessou-se pelo meu trabalho e enviou-me um e-mail, para mim muito curioso, pois alegou ser minha fã, fã do meu trabalho. Foi algo que me deixou muito contente e surpresa na forma como expressou. Admiro muito a Ana como pessoa e artista, por isso senti, quando disse ser minha fã, tive uma sensação de que havia algo trocado, pois eu é que me sentia sua fã, no entanto foi ótimo saber que o sentimento era recíproco.

foto de Rui M Leal
 A Liliana já teve algumas experiências no estrangeiro. A joalharia portuguesa é bem vista lá fora?
R: Sim. Há cerca de dois anos que faço apresentação e venda de coleções minhas na Suiça, tenho neste momento um leque de clientes que tende a aumentar através das pessoas que adquirem as minhas peças, que as usam e consequentemente publicitam, isso faz com que aumente a procura. Também envio encomendas de peças minhas a particulares, a família e amigos de família que residem em África do Sul. Para França, Espanha, Inglaterra e Alemanha estão perspetivados pontos de venda para um futuro próximo. A joalharia portuguesa tem um mundo imenso de apreciadores e de pessoas ávidas de a conhecer, desde a joalharia portuguesa tradicional à contemporânea.

Organiza os seus dias ou trabalha por instinto?
R: Sempre organizados, mesmo que surjam imprevistos tenho sempre que estabelecer metas e prazos a mim mesma, a joalharia para mim não é um hobbie, mas sim um modo de vida, por isso faço por cumprir as minhas responsabilidades como empresária e fornecedora dos meus clientes, consequentemente terei em troca a liberdade de continuar a fazer o que gosto.

Tem projetos para um futuro próximo?
R: Pensar no próximo passo é sempre o meu lema, é intuitivo. A minha internacionalização mais demarcada é ponto assente para o meu futuro próximo, quer seja levar o meu trabalho para o mercado exterior, quer atuando em Portugal em áreas turísticas.


coleção Cornucópia

Para além de se dedicar à joalharia, o que mais gosta de fazer?
R: A joalharia, que é a minha atividade principal, preenche-me bastante como pessoa, no entanto não posso passar sem musica, obrigatoriamente acompanha o meu dia-a-dia e equilibra tudo o que faço. Andar a pé, exercitar o corpo, é fulcral para a minha saúde física e psicológica, pois o trabalho de joalharia obriga o corpo a permanecer em posições contínuas e tensas. O saber, o conhecimento de culturas e do mundo em geral é algo indispensável também para o meu intelecto. Gosto de perguntar o que não entendo e olhar em volta o que me rodeia de uma forma radiológica.

E, no dia-a-dia, o que menos gosta de fazer?
R: Executar as fases chatas e repetitivas em algumas peças. A joalharia para mim, tem o lado radiante, mas também tem por vezes o lado bruto, no entanto o resultado final compensa sempre.

Sugira alguém português que, para si, seja inspirador.
R: No mundo da joalharia Portuguesa infelizmente não tenho em mente alguém que me tenha influenciado ao ponto de não me esquecer nunca do seu trabalho, no entanto a arte nova foi sempre algo que na joalharia gostei de apreciar, René Lalique e uns outros tantos dessa época são artistas dos quais gosto de apreciar as suas obras “Cirúrgicas”. No entanto no mundo da poesia, da pintura, das artes do espectáculo, música e fotografia Portuguesa, existe um número infindável de artistas portugueses que admiro, que sigo os seus trabalhos e de que me orgulho imenso.



coleção Metamorfose

1 comentário:

  1. Muito bom e merecido esse espaço para divulgar o seu talento que é enorme!!!! :)

    ResponderEliminar