21/02/2012

galeria entrevista Sílvia Silva

Terça-feira é dia de entrevista na galeria portuguesa.
Saiba um pouco mais sobre a Sílvia Silva.


"Eu sou uma rapariga, daquelas que oscila entre a vida adulta de uma mulher e a mente sonhadora de uma criança".

A Sílvia nasceu no Algarve, tem raízes e memórias passadas junto a uma alfarrobeira especial, mas viveu grande parte da sua vida junto ao mar em Esmoriz e nos úlitmos anos moveu-se ao longo da mesma costa até à Praia da Aguda.
Em 2011 experimentou uma forma intensa de controlar a própria vida: passou de um emprego remunerado para ficar em casa a tentar desenvolver os seus projetos e assumiu os riscos que estas escolhas envolvem, sem planos, apenas com ideias.
É verdadeiramente apaixonada por chocolate e pelo seu blogue Raparigas como nós, que é também o nome de uma marca que tem uma loja chamada choose your own head, uma loja de chapéus, gorros e turbantes, para quem gosta de escolher a sua própria cabeça! Outras coisas será no futuro ao sabor das ideias e das vontades!
A Sílvia participa com artigos no Trendalert e tem um novo projeto chamado Quarto de mudança, um sítio para todas as pessoas que gostam de blogues, fotografia, comércio eletrónico e comunicação web.
Admira as pessoas que se envolvem, que se preocupam com a política de um ponto de vista comunitário e local e tentam mudar as coisas. Acha que não é uma dessas pessoas mas está a pensar em mudar isso.

raparigascomonos.com
shop.raparigascomonos.com
facebook.com/raparigascomonos
quartodemudanca.com
facebook.com/quartodemudanca


As "Raparigas como nós" são raparigas comuns ou raparigas diferentes das outras?
R: São raparigas iguais a elas próprias. A identificação com a expressão pode acontecer com os mais variados géneros de raparigas (e rapazes) desde que saibam quem são!

Já descobriu se gosta ou não do facebook? E de ver televisão?
R: Já! O facebook, acho que já o dominei. Houve uma altura em que confesso que me irritava um pouco, porque quando dava por mim estava a ler coisas, comentários e pessoas que não tinham qualquer interesse e só me faziam perder tempo. Foi apenas uma questão de dominar as ferramentas existentes e arrumar a ‘casa’.
A televisão, essa já perdeu há muito tempo a batalha para a Internet. Já vivi durante 6 meses sem qualquer televisão e não me fez falta nenhuma. Gosto de controlar o que vejo e leio, e a televisão, para além de produzir conteúdos cada vez piores, tem uma abordagem de domínio perante o telespetador. Eu, já saí desse filme há muito!

O que é que a fez tomar a decisão de trocar um emprego remunerado por um futuro incerto?
R: Esse não é um processo assim tão simples como pode parecer. Para além de que não se resumiu à questão do emprego remunerado, mas sim a uma sensação de inadequação desde os tempos da faculdade. Sempre me senti um peixe fora de água, mas nunca soube qual era o meu aquário! Achei que era capaz de fazer tudo na vida (menos ser professora ou trabalhar na saúde), mas nunca tive qualquer certeza sobre o meu caminho. Fui vivendo as coisas boas que me surgiam e deixando para segundo plano aquilo que menos me agradava. Aguardando ansiosamente por uma qualquer catástrofe natural ou por alguém que viesse resolver o meu problema por mim.
Sabem aquelas histórias que dão na televisão de alguém que está no supermercado a comprar couves e vêm ter com ela dizer-lhe que vai ser o próximo Leonardo da Vinci? Era isso que eu esperava para mim. Nunca aconteceu. Até que um dia percebi que tinha mesmo de ser eu a fazer alguma coisa. E fiz. Foi e ainda é difícil!



Quando passou a trabalhar em casa é que se sentiu realmente cansada. É um cansaço diferente, este que se ganha em casa?
R: A minha avó nunca trabalhou fora de casa. Mas eu sempre dizia que a minha avó não trabalhava. No entanto nunca a vi sentada a ver televisão ou a apanhar sol para ficar morena. Estava de facto sempre a trabalhar, era o que era. Agora, depois de todos estes anos percebi.
A casa é um poço de trabalho. É interminável. Com filhos então, é talvez dos trabalhos com horários mais alargados que se pode ter. Para além de que não há intervalos para almoço (aliás, em casa preferimos não almoçar porque só o trabalho que isso dá, acrescenta mais uma hora extra ao horário), não há pausas para o café, nem risota com os colegas. Agora a sério, é muito difícil coordenar trabalho em casa com filhos (em casa). Mesmo. Os filhos requerem toda a nossa atenção e dedicação e não sobra muito tempo para nos concentrarmos em produzir o que quer que seja. É uma verdadeira luta muito mais exigente do que a procrastinação diária de muita gente nos escritórios das empresas.

Descobriu também que ter trabalho não é sinónimo de dinheiro; ter trabalho não é ter um emprego! Quer comentar?
R: É simples. Podemos trabalhar muito sem receber qualquer compensação monetária pelo nosso esforço. Aliás, qualquer pessoa que já experimentou trabalhar por conta própria ou iniciar um negócio/projeto, sabe perfeitamente que até obter reconhecimento e remuneração pelo mesmo, há um longo caminho a percorrer que é geralmente solitário e ingrato (ou não, há outras formas de compensação). É exatamente a lógica contrária de quem arranja um emprego em que um acordo num papel lhe permite, à partida, ser recompensado independentemente do trabalho produzido.


Tinha o sonho de ser atriz. Já não tem?
R: O meu sonho não era o da atriz, mas sim o do teatro. Fazer teatro. Para mim é diferente. O teatro pode ser tudo e qualquer lugar. Pode ser música, palavra, dança ou silêncio. Pode ser texto ou imaginação. É magia. Costumo dizer que saltei para fora da caixa no momento em que pisei o palco do cine-teatro em Santa Maria da Feira. E foi. A minha perspetiva da vida, da emoção e das pessoas mudou e nunca mais voltou a ser a mesma. É uma paixão muito genuína e continua viva dentro de mim. Não sei bem como explicar isto, mas não tem nada a ver com ser a próxima Sophia Loren, mas mais com ser uma espécie de Charlie Chaplin incompreendido (:D).
A minha grande alegria no teatro é que dizem que é a profissão em que a idade não atrapalha! Espero que sim...

Os turbantes, gorros e chapéus como é que surgiram?
R: Os turbantes sempre foram uma paixão. Desde sempre usei lenços na cabeça em forma de turbante. Achava e acho o máximo, mesmo que o resto da população apenas ache esquisito ou que tenho alguma doença. Os gorros e chapéus também. Aliás o blogue nasceu por causa dos gorros e não o contrário. A forma como surgiram foi muito semelhante à maioria das pessoas, tinha um na cabeça num jantar de amigos, quando alguns dos rapazes começaram a tecer comentários sobre o mesmo (comentários de gozo, diga-se) até que um deles acabou por me desafiar a fazer um para oferecer à namorada no Natal. Daí até colocar o primeiro na Internet passou pouco tempo e depois fui sempre recebendo encomendas e pedidos e fui fazendo, até hoje. Já os turbantes ninguém me pediu para os fazer (risos). Fui eu mesma que achava que ia fazer um grande favor ao mundo. Eu adoro. Não estou preocupada se vendo muitos ou não. Vou continuar!




E o recente Quarto de mudança?
R: É o que eu chamo um projeto ‘flash’! Era uma ideia que já me tinha passado pela cabeça, mas nunca tinha pensado muito nela. Até que comecei a perceber que, para quem tem um blogue e quer fazer algo mais consistente, é essencial ter uma imagem própria e distanciar-se dos templates standard. Para além disso, já há 3 anos que crio e mantenho lojas online e sei o trabalho que isso dá e as dificuldades que se sentem. Até que um dia disse ao meu amigo Pedro “ah e tal e se...” e ele respondeu prontamente “estava a ver que nunca mais perguntavas”. Daí até estarmos online passaram-se perto de 3 semanas. Para mim é uma grande vantagem porque estou ao lado de duas pessoas com as quais sei que também vou aprender muitas coisas que me interessam. Estou a adorar e acho que vai ser muito bom!
A Sílvia fala muitas vezes em organização e concentração. Organiza os seus dias ou trabalha por instinto?
R: Pois, isto para mim é que já não é nada orgânico nem simples. Não tenho qualquer tipo de espírito de filofax humano. Mesmo!
Nem sequer posso dizer que trabalho por instinto, trabalho quando dá, sempre que consigo, de forma pouco organizada e ao sabor das minhas ideias (que essas de facto tenho muitas). Depois a capacidade de transformar estas ideias em realidades é que é mais difícil. O que vale é que não demoro muito a fazer as coisas, senão acho que não fazia mesmo nada. Por vezes preciso de algum tempo sozinha para me organizar e pensar nas coisas que ando a fazer. E atualmente isso é quase impossível. Por isso, vou fazendo o que posso e como posso. Mas nunca paro. Todos os dias me obrigo a produzir algo que me interessa e tem resultado.

Tem projetos para um futuro próximo? Que voos primaveris são esses que tem andado a preparar?
R: Podia passar a minha vida a pensar e a operacionalizar projetos! Em curso tenho pelo menos 2 ou 3. Um relacionado com o crochet e que estou a fazer com a minha avó (‘it’s a doily world’) e outro tem a ver com a minha paixão por coisas velhas. Em breve serão apresentados no meu blogue. A única característica que estas coisas têm é serem pequenas e de baixo custo de produção. Ou seja, não faço grandes planos de coisas mega e que implicariam ter recursos que não possuo. Não, isso já não faço mais (já fiz). Assento os pés bem no chão, olho à minha volta e uso o que está disponível. Dura o tempo que durar e quando acho que deve terminar termina. Ninguém deve ficar a chorar por mais uma ideia ou projeto que se foi! É a ordem natural das coisas.

Para além de se dedicar à sua loja, o que mais gosta de fazer?
R: Gosto de estar com a minha família, de tirar fotografias, de dançar rock, de francesinhas e finos na companhia de amigos, de procurar roupa vintage no e-bay e no etsy, de vasculhar velharias em feiras e lojas e bisbilhotar casas abandonadas. Também costumava gostar de deambular pela cidade do Porto e de ver filmes parvos ao domingo à tarde no sofá, mas já não faço isso há algum tempo (:D).



E, no dia-a-dia, o que menos gosta de fazer?
R: De acordar cedo e fazer tarefas domésticas (todas!).

Sugira alguém português que, para si, seja inspirador.
R: Aqui vou ter desiludir os grandes artistas, cientistas e empreendedores nacionais e cair no maior lugar-comum de sempre para eleger a minha própria mãe. Porque é verdade. Foi ela que me ensinou a ter força e a lutar contra a corrente. Que me mostrou, muitas vezes da pior maneira, que a vida é para ser vivida em pleno e com felicidade. Acho que ela ficaria muito desiludida com isto, mas é ela que me inspira todos os dias para fazer as loucuras que tenho feito. Hoje, todas as coisas que em criança não compreendia transformaram-se em pura inspiração.

3 comentários:

  1. Adoro o blog da Sílvia e a honestidade com que escreve!
    "Hoje, todas as coisas que em criança não compreendia transformaram-se em pura inspiração." é uma frase linda!

    Obrigada pela entrevista

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  2. adoro esta rapariga!!! :) é uma rapariga como nós, destas que trabalham a partir de casa e que esperam que um dia o mundo compreenda o nosso esforço, e que estar em casa não significa "ah isso é que é vida boa!" como se acordássemos às horas que queremos e parássemos a meio para ver um filme, só porque não temos um patrão à coca! e viva os turbantes, adorava ficar gira como a sílvia fica! um grande beijinho! claudia (miss twiggs)

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  3. A Sílvia é autêntica e genuína e por isso é que gosto tanto de tudo o que faz!

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