19/01/2012

galeria entrevista Rita Cordeiro

Quinta-feira também é dia de entrevista na galeria portuguesa.
Saiba um pouco mais sobre a Rita Cordeiro.


A Rita nasceu em Coimbra em 1974 mas viveu em Leiria até aos 17 anos.
Frequentou o 1.º ano de Pintura na ARCA.ETAC e fez uma licenciatura de Design de Comunicação Visual na ESAD de Matosinhos. Trabalhou como designer durante 12 anos em agências e ateliers em Lisboa, onde se especializou em Design Editorial, mas fartou-se da rotina da grande cidade e voltou para Leiria.
Quando era pequena era muito irrequieta. A avó paterna descobriu uma forma de a distrair, ensinou-a a fazer renda "na altura não se utilizava a expressão crochet ou tricot, fazia-se renda e malha".
A renda hibernou até que se tornou mãe, e foi com o nascimento da filha que voltou a pegar nos tesouros de família, feitos pela mãe, avós e tias. Chegou à conclusão que ainda sabia pegar na agulha e deitou mãos à obra. Descobriu lã 100% portuguesa de uma fábrica que tinha fechado, com cores impressionantes, e chegou a dois modelos de golas, que se multiplicaram em muitos outros acessórios de lã integralmente feitos à mão e criou a marca wooler. Mais tarde, criou a cooler, com acessórios mais frescos, executados em malha de jersey de algodão e crochet.
Gosta de andar a pé, é uma sapatólica inveterada e adora música e fotografia. É membro convidado do banco de imagens Getty Images. Publica o seu trabalho, música, pensamentos e registos de sítios, coisas e pessoas no seu blogue in my pocket.
Se quiser aprender com a Rita, inscreva-se num workshop de crochet na Retrosaria.

lojas
cooler-shop.blogspot.com
wooler-shop.blogspot.com

facebook
cooler
wooler

in-my-pocket.blogspot.com
flickr.com/photos/inmypocket






A Rita já saltitou de cidade em cidade. Faz parte da sua personalidade irrequieta?
R: As mudanças foram sempre fruto da circunstância de viver numa cidade de província onde a oferta, quer a nível de ensino superior, quer a nível de mercado de trabalho na minha área, era muito reduzida. Mas é verdade que gosto de recomeços e de páginas em branco e da imensidão de possibilidades em aberto.

Gostava de ter um espaço loja/ atelier/ galeria/ editora/ sapataria. Fale-nos desse sonho.
R: Acho que o sonho de qualquer Designer é ter o seu próprio atelier. No meu caso, conjugam-se uma série de fatores que tornariam esse espaço num espaço multidisciplinar: um sítio onde eu poderia fazer o meu trabalho gráfico, com uma forte vertente editorial (livros e música), onde seria possível ver e adquirir as minhas peças, onde poderia haver ciclos de exposições de outros autores de quem gosto particularmente e onde não poderiam faltar os sapatos/sapatilhas, numa seleção muito cuidada de marcas e modelos.



Como é que surgiu o blogue in my pocket?
R: As minhas mudanças de cidade sempre implicaram distância das pessoas que me eram próximas. Viver longe é difícil e o conceito da expressão "no meu bolso" era utilizada por mim como uma forma ideal de não me separar das muitas pessoas/coisas favoritas. Tornava-as portáteis e levava-as no bolso.
Quando fui mãe em 2006, nos meses em que estive de licença de maternidade, pareceu-me útil para a minha sanidade mental ter um objetivo para além de manter a minha filha viva e feliz. Porque estar com um bebé pequenino 24/24 horas é maravilhoso, mas também nos retira alguma perspetiva sobre nós, sobre aquilo que somos para além da maternidade que, de repente, passa a preencher cada nano-segundo da nossa existência diária. E foi assim, quando a minha filha tinha 3 meses, que venci a timidez e comecei um blogue, que tencionava ser um aglomerado das coisas de que gosto e que me preenchem os dias, a vida. E, depois de muito pensar sobre um nome, voltei então à expressão que resume tudo: in my pocket.

As golas começaram como hobby ou percebeu logo que tinha material para negócio?
R: Quando voltei ao crochet, fi-lo para suprir as minhas próprias necessidades, Resolvi fazer golas tubulares porque não sou grande entusiasta das pontas soltas dos cachecóis.
Quando pus as primeiras fotos no flickr e, para grande surpresa minha, tive uma avalanche de comentários e encomendas. A partir daí foi impossível parar de ter ideias e de experimentar novas peças (o chamado efeito bola de neve) e a família wooler foi crescendo. E depois surgiu a cooler.




A Rita optou por ser o modelo dos seus produtos na internet e mostra a cara (ao contrário da maioria). Como é que isso aconteceu?
R: Foi mais uma inevitabilidade do que uma escolha, a velha máxima do quem não tem cão, caça com gato.
As primeiras fotos de que falei, as tais que mostrei no flickr e que motivaram tudo, mostravam a minha cara. Depois disso foi a forma natural de prosseguir.
Eu não tinha ninguém que pudesse posar para mim, e pôr as peças num manequim clássico, na altura não me pareceu uma boa alternativa porque tornava a coisa muito impessoal. E não era isso que eu queria.
Já me arrependi várias vezes, claro, porque me criou uma obrigatoriedade difícil de lidar com a minha cara e toda a gente compreende que nem sempre nos apetece olhar para nós e ser confrontados com a nossa imagem. Para além disso, há aquela coisa estranha de desconhecidos me reconhecerem nos sítios mais improváveis. Algumas pessoas são simpáticas e interagem, mas depois há as outras que são incapazes de dizer olá, limitando-se a observar-me com uma curiosidade incómoda enquanto faço compras ou passo na rua.
Já manifestei vontade de deixar de me fotografar às pessoas que seguem o meu trabalho, mas tive sempre a mesma resposta: o teu trabalho está associado à tua imagem. E percebi que não podia voltar atrás.
Acho que as pessoas se identificam com as fotos porque eu sou uma pessoa normal e não um modelo profissional. Sou apenas o manequim animado que dá, literalmente, forma às peças.

Quem é que a fotografa?
R: Sou eu que faço tudo, à semelhança do homem dos sete instrumentos, e as minhas fotos da cooler e da wooler são todas auto-retratos.
Aliás, acho que era incapaz de posar para alguém. Já o fiz, quando era mais nova, e foi sempre uma experiência difícil. A minha timidez prefere assim.
Mas adorava poder ter alguém para fotografar!



workshops de crochet na Retrosaria. Como é que surgiu este convite? E como é a Rita a ensinar?
R: Desde que abriu a Retrosaria, há workshops regulares de costura e tricot, para além de outros mais esporádicos noutras áreas.
O convite surgiu após eu e a Rosa Pomar nos conhecermos pessoalmente.
Eu não serei a pessoa indicada para dizer como sou eu como professora, mas sim as alunas da Retrosaria.
Posso apenas dizer que ensino o que sei, da melhor forma que sei.

Anda sempre com a máquina fotográfica?
R: Sempre. Funciona como um registo para memória futura.
E agora tenho finalmente um iphone, um dos meus objetos de desejo desde há muito tempo, que com a maravilhosa aplicação instagr.am se tornou mais uma forma de registo diário altamente viciante.

Organiza os seus dias ou trabalha por instinto?
R: Se houvesse um top 3 mundial para as pessoas desorganizadas, eu estaria certamente no pódio.
Acho que nasci com uma alteração no gene do multitasking e tenho vindo a forçar-me a melhorar e a não fazer uma infinidade de coisas ao mesmo tempo, mas nem sempre consigo. O que muitas vezes me obriga a parar para perspetivar e tentar um sistema de organização muito próprio, porque a coisa chega a atingir níveis de parafernália.
Resumindo, tento organizar-me (com as encomendas tem mesmo que ser!), mas o que eu gosto mesmo e o que me é natural é trabalhar por instinto.




Tem projetos para um futuro próximo?
R: De alguns ainda não posso falar, porque não são só meus e ainda estão no segredo dos deuses.
Mas a curto prazo tenho planos para uniformizar as marcas e as respetivas lojas, tornando a escolha e a compra mais simples e diretas, e alargar, muito em breve, a cooler e a wooler ao universo das peças de decoração e utilitários domésticos.

Para além de se dedicar à wooler e à cooler, o que mais gosta de fazer?
R: Livros. Adoro fazer livros.
Descobrir tesouros "vintage".
Passear, de preferência a pé e com banda-sonora.
Tirar fotografias, comer gelados e dormir ao sol.



E, no dia-a-dia, o que menos gosta de fazer?
R: Porque a vida acontece a uma velocidade estonteante e pode acabar de repente, há relativamente pouco tempo senti na pele aquela coisa de passar a valorizar as pequenas coisas.
Interiorizar isto de forma profunda faz com que até as coisas pelas quais temos menos simpatia ganhem outro sentido.
Dito isto, hoje em dia há poucas coisas de que eu não goste, mas se tiver mesmo que escolher, e porque às vezes parece mesmo uma verdadeira perda de tempo, de tão efémero que é o efeito: limpar a casa de banho e passar a ferro.

Sugira alguém português que, para si, seja inspirador.
R: É uma escolha difícil, porque há várias figuras que me marcaram e cuja obra admiro muito.
Adoro todo o trabalho gráfico do Sebastião Rodrigues, figura incontornável do Design Gráfico em Portugal, nomeadamente no âmbito do Design Editorial, com todas as magníficas capas de livros que fez. E há duas mulheres que considero extraordinárias: a Lourdes Castro e a Helena Almeida.

20 comentários:

  1. e é um doce de pessoa, honesta e sensível, sempre pronta a ajudar :)

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  2. Conheci a Rita através do meu amigo José, ou melhor, encontrá-mo-nos por algumas vezes. Mais tarde fui seguindo o seu trabalho no Facebook e gostei (e gosto) do que ia apresentando... mas agora conheci-a muito melhor através desta entrevista pois de facto ela é tímida.

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  3. Parabéns à Galeria pela escolha!
    A Rita surpeende com objectos complexos e ao mesmo tempo cheios de simplicidade e beleza.
    A conjugação das cores é harmoniosa e cheia de bom gosto. Adoro!! :)

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  4. Adorei a entrevista e admiro o trabalho da Rita desde o seu início. Fotos fantásticas! Só lhe posso desejar muito sucesso e a concretização dos projectos de que fala.

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  5. Conheço a Rita de outros Carnavais, aliás de outra geração.
    Obrigado por estares próximo.
    Nunca te esqueças o gelados engordam e as sapatilhas engasgam.
    nsv

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  6. Gosto sempre de ler a Rita... de inspirar-me com as suas fotografias e de admirar cada cor das suas belíssimas criações.
    Parabéns pelo projecto galeria portuguesa e por mais esta excelente entrevista!

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  7. Bonito Ela e trabalho dela. Adorei ler.
    Mary

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  8. Pronto! Li tudo e tamanha é a tua convicção, que me rendi; não à 'renda', isso não, mas tá decidido que vou dedicar o meu tempo de reforma ao queroxé!

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  9. Bom! Agora é abrir uma loja e internacionalizar as marcas!

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  10. E que orgulho sinto desta rapariga!
    Excelente Artista com A grande que enche de orgulho qualquer leiriense! :)

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  11. Parabéns a ambas pela entrevista e votos de muitos sucessos :)

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  12. A frase "E há duas mulheres que considero extraordinárias: a Lourdes Castro e a Helena Almeida" facilmente teria sido dita por mim. Estas afinidades q descobrimos ao saber um pouco mais de cada autor tornam o trabalho que admiramos mais próximo e interessante ;)
    Parabéns e sucesso.

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  13. :D já sigo o trabalho da rita há uns anos e é sempre tão refrescante, tanto os produtos cooler/wooler como as fotografias!
    gostei da entrevista, boas perguntas!

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  14. Gostei de saber mais sobre a Rita, acompanho e admiro o seu trabalho e até me inscrevi num workshop da Retrosaria.

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  15. Que bom!
    A galeria portuguesa existe com esse propósito. Dar espaço a pessoas inspiradas e inspiradoras.

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  16. Gosto sempre de ver a Rita a divulgar o trabalho dela, que é absolutamente viciante :) Adoro!

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  17. Simplesmente maravilhoso!
    Estão todas de parabéns: a Rita (que é verdadeiramente espetacular!) e a Galeria Portuguesa, pela aposta na divulgação da criatividade made in Portugal, que vai contrariando os "velhos do Restelo" que continuam a achar que só o que vem de fora é bom.
    Votos de muito (e merecido) sucesso!

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  18. Parabéns Rita, pelo excelente trabalho que fazes! Beijo

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