09/02/2012

galeria entrevista Alice Bernardo

Quinta-feira também é dia de entrevista na galeria portuguesa.
Saiba um pouco mais sobre a Alice Bernardo.

foto de Fernanda Gomes
A Alice nasceu em 1980 em Vila Nova de Gaia mas trabalha e vive em Guimarães.
Formou-se em Arquitetura pela Universidade do Minho. Desde 2008, divulga o seu trabalho de design e produção artesanal através do site Noussnouss.com, onde vende acessórios de moda e faz um relato pessoal do seu processo criativo.
Há uns anos atrás teve a oportunidade de acompanhar as obras de restauro de um edifício classificado como património histórico e registou com pormenor os trabalhos de recuperação de tetos estucados e pinturas de fingidos. Foi nessa altura que achou fundamental registar as técnicas artesanais, transversais a todo o tipo de produção na nossa sociedade, que carecendo de aprendizes estão destinadas a ser esquecidas. Começou, então, numa constante pesquisa sobre processos de produção e origem das matérias-primas e criou o projeto documental Saber Fazer, a partir do qual regista com fotografias e vídeos as técnicas de produção artesanais e semi-industriais em Portugal, que resistiram até aos dias de hoje. Espera que com este trabalho documental continuem a ser valorizadas pelas gerações futuras e assim se gere uma vontade de retoma e evolução da manufatura.

noussnouss.com
blog.noussnouss.com
shop.noussnouss.com
www.saberfazer.org




A licenciatura em arquitetura foi um erro?
R: Nunca a considerei um erro e cada vez a acho mais importante na minha vida. A licenciatura em arquitetura deu-me estrutura e tornou-me autónoma criativamente. Foi um processo pelo qual passei e sem ele não estaria aqui.

Como surgiram os primeiros acessórios de moda Noussnouss?
R: Previsivelmente, surgiram para mim e para as amigas. A partir daí foram-se desenvolvendo.

Usa habitualmente os seus neckwarmers e as gravatas?
R: O primeiro neckwarmer de todos foi feito como presente para a minha irmã, e no ano seguinte criei o plissado para mim. Por isso, ao terem sido concebidos especialmente para nós as duas, continuam a ser das peças que mais uso durante o Inverno. É exatamente o que eu gosto de usar.
As gravatas não costumo usar, porque tenho um estilo mais descontraído, mas é uma das minhas peças preferidas de fazer.



E quais são os produtos mais procurados?
Os neckwarmers e os cachecóis longos, embora sejam produtos sazonais, são sempre os mais procurados. Tento que a qualidade dos materiais e a exclusividade das peças sobressaiam, e isso tem garantido o sucesso.

Desde que iniciou o projeto Saber Fazer, qual foi a técnica que mais a encantou?
R: Há bastante tempo que tenho uma pequena obsessão com a fiação, por isso é natural que perante a oportunidade de registar e aprender esta técnica, tenha ficado completamente apaixonada. Para mim há algo muito especial naquele ato de transformar a fibra em fio.
E o encanto vai para além da técnica, passando para as ferramentas: a minha roca em freixo e a coleção de fusos em carvalho são dos objectos que possuo atualmente que mais valorizo.

É um projeto que certamente lhe ocupa muito tempo. Tem sido gratificante?
R: As pessoas que tenho vindo a conhecer e toda a informação que tenho acumulado são algo que têm um valor incalculável para mim. Tive a oportunidade de aprender tanta coisa que de outra forma nunca conheceria, e em cada situação surgem oportunidades interessantes.
É um projeto que me deixa satisfeita. Mesmo quando volto para casa sem uma única fotografia, volto com boas experiências, que é o que me alimenta a alma.




A Alice gosta muito de fotografia. Anda sempre com a máquina fotográfica?
R: No mínimo com uma, às vezes com duas ou três. Sem nenhuma é que não.

Vende na sua loja produtos do José Machado. Foi a Alice que descobriu o José ou o José que descobriu a Alice?
R: Eu conheci o trabalho do Zé através da internet e, como me pareceu tão interessante e gosto tanto de ver oficinas, pedi-lhe para me deixar visitá-lo, ao que ele acedeu prontamente.
Nesse dia fiquei a conhecer mais sobre o seu trabalho e desde aí que desenvolvemos uma relação de amizade. 
A nossa parceria profissional resulta da nossa capacidade de combinar esforços e criar uma sinergia que funciona bem para ambos os lados, já que temos uma visão muito semelhante do que deve ser a produção artesanal e a sua comercialização.



Organiza os seus dias ou trabalha por instinto?
R: Por instinto, embora a organização me faça cada vez mais falta.

Tem projetos para um futuro próximo?    
R: O meu futuro próximo vai ser dedicado a continuar a desenvolver o Saber Fazer. Há diversos projetos-satélite que quero levar a cabo, inclusive a primeira publicação dedicada apenas ao trabalho da lã, que estou a desenvolver com a ilustradora Maria Helena Silva.

Para além de se dedicar à Noussnouss e ao Saber Fazer, o que mais gosta de fazer?
R: De fazer caminhadas pela floresta e fotografar. E se puder fazer as duas coisas juntas, é perfeito.



E, no dia-a-dia, o que menos gosta de fazer?
R: A parte que toda a gente que tem um trabalho remotamente criativo detesta: gestão!
Podia dizer que apenas não gosto tanto, mas na verdade odeio.

Sugira alguém português que, para si, seja inspirador.
R: Uma pessoa que me tem surgido em mente ultimamente, pelo fantástico trabalho que desenvolveu ao longo da sua vida, e que ainda hei-de conhecer pessoalmente, porque sou assim teimosa: Benjamim Enes Pereira.

1 comentário:

  1. Bom Dia.

    Adorei a entrevista á Alice. Ela merece ter o seu trabalho reconhecido e divulgado pois álem de ser óptima profissional nas áreas em que se envolve é também boa pessoa e amiga de ajudar,como sou inexperiente nestas lides da net,ela já me ajudou com dicas e conselhos sem me conhecer. Acompanho a evolução da sua obra que trás á tona o melhor da cultura ancestral portuguesa. Um abraço, Alice
    Rosa Viana

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