08/03/2012

Miguel Esteves Cardoso

No dia internacional da mulher, a galeria portuguesa publica sobre um homem, mas sobre o homem que escreveu isto:
"Só quando os homens chegam a uma certa idade é que podem dizer com certeza que as mulheres são melhores do que eles em tudo - mesmo na bola, a carregar pianos, a lutar com jacarés ou nas outras coisas em que ganhávamos quando éramos mais novos e brutos e fortes.
Quando se é adolescente, desconfia-se que elas são melhores.
Nos vintes, fica-se com a certeza.
Nos trintas, aprende-se a disfarçar.
Nos quarentas, ganha-se juízo e desiste-se.
Nos cinquentas, começa-se a dar graças a Deus que seja assim.
Os homens que discordam são os que não foram capazes de aprender com as mulheres (por exemplo, a serem homenzinhos), por medo ou vaidade ou estupidez.
Geralmente as três coisas.
Desde pequenino, habituei-me que havia sempre pelo menos uma mulher melhor do que eu. Começou logo com a minha linda e maravilhosa mãe, cuja superioridade - que condescendia, por amor, em esconder de vez em quando - tem vindo a revelar-se cada vez mais. As mulheres são melhores e estão fartas de sabê-lo.
Mas, como os gatos, sabem que ganham em esconder a superioridade.
Os desgraçados dos cães, tal como os homens, são tão inseguros e sedentos de aprovação que se deixam treinar.
Resultado: fartam-se de trabalhar e de fazer figuras tristes, nas casas e nas caças e nos circos.
Os gatos, sendo muito mais inteligentes, acrobatas e jeitosos, sabem muito bem que o exibicionismo vai levar à escravatura vil.
Isto não é conversa de engate. É até um tira-tesões. Mas é a verdade. E é bonita."


Miguel Esteves Cardoso nasceu em Lisboa em 1955. É crítico, escritor e jornalista português. Mas é também letrista, tradutor, ensaísta, autor de programas de rádio, dramaturgo, entrevistador e tem um grande sentido de humor.
Teve uma educação privilegiada e foi um aluno brilhante com um talento invulgar para a escrita. Estudou no Reino Unido, mais concretamente na Universidade de Manchester, onde se licenciou em Estudos Políticos, e prosseguiu na mesma universidade para o doutoramento em Filosofia Política com uma tese sobre A Saudade, o Sebastianismo e o Integralismo Lusitano. Em 1982 regressou a Portugal e entrou para o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, como investigador auxiliar. Foi ainda professor auxiliar de Sociologia Política no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa, co-fundador do Gabinete de Filosofia do Conhecimento, visiting fellow do St. Antony's College, em Oxford, e fez um pós-doutoramento em Filosofia Política, sob orientação de Derek Parfit e de Joseph Raz.
A partir do contacto estreito com as bandas pós-punk e new wave da editora Factory quando esteve no Reino Unido, MEC (como ficou conhecido), escrevia crónicas sobre música pop, publicadas nos jornais Se7e, O Jornal ou Música & Som. Participou na Fundação Atlântica, a primeira editora portuguesa independente, produzindo discos de nomes como Sétima Legião, Xutos e Pontapés, Delfins, Paulo Pedro Gonçalves, Anamar, entre outros. Fez letras de músicas e foi ainda autor e co-autor de diversos programas de rádio como Trópico de Dança, Aqui Rádio Silêncio, W, Dançatlântico e A Escola do Paraíso, todos na Rádio Comercial.
Começou a dedicar-se à crítica literária e cinematográfica e a ser presença assídua na rádio e na televisão. Marcava a diferença pela sua aparência invulgar de jovem intelectual com intervenções imprevisíveis e desconcertantes, irónicas e irreverentes. Tornou-se colaborador do Expresso, onde as suas crónicas satíricas A Causa das Coisas e Os Meus Problemas, conheceram o acompanhamento regular de muitos leitores e o sucesso junto dos jovens.


Monárquico e antieuropeísta convicto, apresentou-se como candidato a deputado ao Parlamento Europeu, em 1987, como independente nas listas do Partido Popular Monárquico, não conseguindo a eleição. Simultaneamente, é incentivado a integrar a Companhia de Teatro de Lisboa, o que o leva à dramaturgia. Publicou então Carne Cor-de-Rosa Encarnada (encenada por Carlos Quevedo), Os Homens (encenado por Graça Lobo) e traduziu várias peças de Samuel Beckett.
Em 1988 fundou, com Paulo Portas, O Independente. Um semanário que pretendia revolucionar o jornalismo português. Foi um contraponto conservador e elitista, mas simultaneamente libertário e culto, à imprensa esquerdista que prevalecia na época. MEC ocupava-se da parte cultural, no destacável Vida e fazia dupla com Paulo Portas em entrevistas a algumas figuras marcantes da política e cultura portuguesa.



Em 1991, deixou a direção d'O Independente para criar a Revista K, projeto que não durou mais que dois anos.  Mas a dedicação à literatura foi-se intensificando, até que acabou por afastá-lo do jornalismo ativo.
O amor é fodido é o título do seu primeiro romance, publicado em 1994 e foi um best-seller.
Na televisão, colaborou com Herman José, como guionista do programa Humor de Perdição e em vários talk-shows, entre eles o popular A Noite da Má-Lingua na SIC, com a moderação de Júlia Pinheiro e na companhia de Manuel Serrão, Rui Zink, Rita Blanco, Alberto Pimenta, Luís Coimbra, Constança Cunha e Sá e Graça Lobo, eram satirizadas figuras e situações da vida pública portuguesa e internacional.
No final dos anos 90, por motivos que nunca revelou, abandonou os ecrãs televisivos. Publicou mais dois romances, A Vida Inteira e O Cemitério de Raparigas e continuou a escrever crónicas em jornais, primeiro n'O Independente, mais tarde no Diário de Notícias. Em 1999, criou também um blogue chamado Pastilhas, que abandonou em 2002.
Em 2006 retomou a sua colaboração com o Expresso. Em 2009 Lançou o livro Em Portugal não se come mal.
"A vida come-se quando é boa; come-nos quando é má. E às vezes, quando menos esperamos, também comemos com ela".

Neste vídeo, Miguel Guilherme lê um texto sobre palavrões, de Miguel Esteves Cardoso.

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